(Manuel Bandeira) - Carta-Poema a Um Prefeito
A ele jogam todo o seu lixo
Os moradores sem quintais.
Que imundície!
Tripas de peixe,
Cascas de fruta e ovo,
papéis...
Não é natural que me queixe?
Meu Prefeito, vinde e vereis!
Quando chove, o chão vira lama:
São atoleiros, lodaçais,
Que disputam a palma à fama
Das velhas maremas letais!
A um distinto amigo europeu
Disse eu: - Não é no Paraguai
Que fica o Grande Chaco,
este é o Grande Chaco!
Senão, olhai!
A quem humilde rendo preito,
Por serdes vós, senhor, quem sois!
Mandai calçar a via pública
Que, sendo um vasto lagamar,
Faz a vergonha da República
Junto à Avenida Beira-Mar!
Manuel Bandeira (Recife, 19 de Abril de 1886 - Rio de Janeiro, 13 de Outubro de 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira.
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